No primeiro dia da programação do 33° Encontro Anual da ANPOCS, houve uma sessão especial sobre conjuntura nacional, com participação do cientista político Antônio Lavareda, do economista e presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas Márcio Pochmann, e do também cientista político Luiz Wernneck Viana.
Lavareda fez análise do cenário político-eleitoral, com olhos na disputa presidencial de 2010. A análise foi consistente, mas na verdade não disse nada de novo em relação a certo senso comum "especializado" - o jornalismo e o comentarismo político, as conversas de bastidores, e os papo de btequim de gente bem informada.
Pochmann fez uma análise de macro-economia política de médio prazo. Boa análise, como seria de se esperar de um intelectual sério como ele. Mas vi dois problemas. O primeiro é a inevitável limitação (e talvez contradição) de quem faz ao mesmo tempo análise e gestão de governo - e nesse sentido, antes de criticá-lo, sinto-me angustiado e de certa forma solidário a ele, eu que vez ou outra tenho que fazer análises sobre temas de minhas pesquisas, em contextos onde tenho que representar (e defender) o governo. O segundo problema que vi na análise de Pochmann está em certa generalidade, talvez associada ao primeiro problema, do não comprometimento de sua função de governo. Refiro-me à sua menção a uma "nova maioria política", responsável, segundo ele, pela implementação de um novo modelo de desenvolvimento. A tese não é errada, e quem acompanha a política sabe do que ele está falando - a convergência de forças aparentemente antagônicas (PT e PSDB, empresários e trabalhadores) em torno de um projeto minimanente consensual para o país, que envolve estabilidade econômica, redefinição (e aumento) do papel do Estado e políticas sociais de inclusão. O problema está em não nomear a tal "nova maioria política"...
Mas isso ficou por conta do último painelista, Wernneck Viana, que colocou os pingos nos is. Reavivando uma tese que vem defendendo em estudos sobre a tradição republicana brasileira, e em especial em seu artigo O Estado Novo do PT (http://artigosacademicos.files.wordpress.com/2007/08/werneck-o-novo-estado-novo.doc), Wernneck Viana afirma que o governo Lula vem praticando uma espécie de neo-corporativismo e reafirmando o legado autoritário de nossa constituição política, ao propor um Estado e uma prática política que buscam incorporar atores antagônicos, não só no contexto de uma aliança política, mas dentro do próprio Estado: sem-terra e agronegócio, trabalhadores e empresários, novas e velhas elites, direita e esquerda... Cita, a propósito, arenas de incorporação desses atores, que servem também para uma progressiva centralização e verticalização do poder, incluindo o Conselho Nacional de Justiça.
Independente da concordância ou não com a tese de Viana (com a qual tendo a concordar, um tanto constrangido...), foi um prazer enorme ouvi-lo falar. Viana falou com empolgação e vigor, diferentemente dos outros painelistas, que expuseram suas análises no tom de sobriedade análítica que caracteriza o discurso contemporâneo das Ciências Sociais - um certo "tecnicismo", supostamente justificado pela necessidade de objetivação do conhecimento sociológico. Além disso, falou de classes, de uma ordem "grão-burguesa" no Brasil, e se reafirmou um marxista. E fez, no início de sua fala, uma bonita e emocionada homenagem a Carlos Estevam Martins, falecido em outubro último.
O constrangimento dos demais painelistas foi evidente.
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